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Ele me falou sobre o gosto amargo na boca durante a cremação. Eu me lembrei imediatamente do cheiro meio acre, meio doce das flores, que começou durante o velório e me acompanhou até o enterro. Eu nunca esqueci o cheiro. Ele nunca esqueceu o gosto. Nós não estávamos chorando pela mesma pessoa. Alguns meses separavam o adeus, o funeral e todos os outros ritos que acompanham essas ocasiões. Comecei a pensar que, talvez, nossos sentidos fiquem mais apurados nessas horas. E que, talvez, os sentidos fiquem mais apurados porque todo o resto está adormecido, entorpecido, não sei definir bem. Sei que dói. Que dói demais. E que jamais conseguirei me acostumar com a morte.
O meu problema, meu bem, é a saudade. Eu sei que já estamos cansados de falar de saudade; mas é isso. Não há nada mais para explicar. Eu sinto saudade. E às vezes eu acho que sou só isso. Que toda aquela confusão de sentimentos já acabou; que tudo ficou frio, limpo, resumido a uma coisa só: saudade. Eu sinto saudades de tudo, sinto saudades de qualquer coisa, sinto saudades do que não vivi. Me disseram que isso é um lugar-comum, mas é a verdade. E eu continuo me perguntando: como é que alguém pode viver sentindo saudades daquilo que não viveu? Eu não tenho uma resposta. Eu gostaria de ter, gostaria muito de ter, mas não tenho. Só sei que isso é possível porque eu estou aqui. Ou pelo menos acredito que estou. Saudade é algo tão pequeno, tão mesquinho; deve ser por isso o eco em meu pensamento, o eco tão comum de lugares vazios, o eco tão comum na solidão. A saudade é só.
Ele me falou sobre o gosto amargo na boca durante a cremação. Eu me lembrei imediatamente do cheiro meio acre, meio doce das flores, que começou durante o velório e me acompanhou até o enterro. Eu nunca esqueci o cheiro. Ele nunca esqueceu o gosto. Nós não estávamos chorando pela mesma pessoa. Alguns meses separavam o adeus, o funeral e todos os outros ritos que acompanham essas ocasiões. Comecei a pensar que, talvez, nossos sentidos fiquem mais apurados nessas horas. E que, talvez, os sentidos fiquem mais apurados porque todo o resto está adormecido, entorpecido, não sei definir bem. Sei que dói. Que dói demais. E que jamais conseguirei me acostumar com a morte.
O meu problema, meu bem, é a saudade. Eu sei que já estamos cansados de falar de saudade; mas é isso. Não há nada mais para explicar. Eu sinto saudade. E às vezes eu acho que sou só isso. Que toda aquela confusão de sentimentos já acabou; que tudo ficou frio, limpo, resumido a uma coisa só: saudade. Eu sinto saudades de tudo, sinto saudades de qualquer coisa, sinto saudades do que não vivi. Me disseram que isso é um lugar-comum, mas é a verdade. E eu continuo me perguntando: como é que alguém pode viver sentindo saudades daquilo que não viveu? Eu não tenho uma resposta. Eu gostaria de ter, gostaria muito de ter, mas não tenho. Só sei que isso é possível porque eu estou aqui. Ou pelo menos acredito que estou. Saudade é algo tão pequeno, tão mesquinho; deve ser por isso o eco em meu pensamento, o eco tão comum de lugares vazios, o eco tão comum na solidão. A saudade é só.
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