sexta-feira, 30 de março de 2012

Náufrago

...quando cheguei naquela ilha, logo depois de um tempo, tinha certeza que jamais sairia de lá, que tinha perdido tudo, que nunca mais retornaria, que meu grande amor estaria perdido para sempre. Tentei me matar, pois nos meus cálculos, invariavelmente isto aconteceria, mais cedo ou mais tarde, fosse por um ferimento ou doença, mas sem recursos... era inevitável. Resolvi então dar cabo de minha vida para evitar maiores sofrimentos, escolhi no alto de uma rocha uma árvore, para poder enforcar-me, porém, antes de colocar meu próprio pescoço, fiz um teste para ver se a árvore suportaria meu peso, não suportou e árvore espatifou-se lá embaixo. Daquele ponto em diante, percebi que não tinha controle nenhum sobre minha própria vida, pois nem morrer como gostaria era possível. Mas que, diante disto, só restava uma coisa a fazer, manter-me vivo, respirar. simplesmente respirar.

Um dia, depois de muito tempo, a maré me trouxe uma vela, e então através dela consegui sair de lá.

Agora estou aqui falando com você, tem gelo no meu copo e eu a perdi novamente. Mas agora já sei o que fazer, a vida me ensinou, vou continuar respirando, manter-me vivo... pois nunca sabemos o que a maré vai nos trazer...

domingo, 25 de março de 2012

Se não houver sinceridade em suas ações não as faça, se não houver verdade em suas palavras não as diga.
E quando eu não estiver mais aqui, quem vai apoiar você?
E quando eu morrer, quando eu realmente partir, você vai lembrar de mim?

sábado, 24 de março de 2012

Ando desacreditado, desanimado, cansado de tentar entender a vida. Abri mão de ser feliz, de ser triste, de ser qualquer coisa. Não amei e nem quero amar. Caio Augusto Leite
Quando os muros desabarem, qual será teu novo esconderijo?
Quando todos se forem quem será teu novo amigo?
Daysy

quinta-feira, 22 de março de 2012

Eu andei, eu andei, eu corri, eu girei, eu cai, eu despenquei, me espatifei, tudo isso pra não dizer que eu menti, eu senti, eu gostei, eu me preocupei, agora eu construo blocos imensos de muros, não me deram outra escolha, eu só queria a verdade, a verdade que sei lá, onde guardam.
Daysy
O erro pode estar em qualquer lugar, pode estar entre as coisas não ditas, ou entre as coisas ditas sem pretensão de serem cumpridas, em que acredita, em quem não acredita, em quem fala, em quem não fala, o erro vem de vários culpados, inocentes, dos que se exaltam, e dos que ficam imóveis, dos que sentem, e dos que já não sentem, daqueles que fogem, e daqueles que insistem, mas quando as pessoas acham que não vale mais a pena, esse é o fim das coisas. Na verdade culpa todos tem, mas empurram uns para os outros, como se isso fosse resolver alguma coisa.
Daysy.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Falam me que o destino se diverte conosco,
que não nos dá nada e que nos promete tudo,
que a felicidade está dentro do alcance.
Então você estende a mão e se descobre louco...

domingo, 11 de março de 2012

“Cate apertou minha mão enquanto eu percebia que nunca me ofendia com sua compaixão. Que sempre estava disposta a confessar meus temores sem nunca desejar não ter dito ou precisar rever minha história depois. Assim, a minha autoimagem se encaixava perfeitamente na imagem que ela tinha de mim, sem disparidades entre as duas. O que fazia com que estar em sua companhia fosse de um conforto e um luxo absolutos, principalmente quando tudo desabava ao meu redor.”  (Questões do Coração)
As condições sob as quais sou compreendido, sob as quais sou necessariamente compreendido – conheço-as muito bem. Para suportar minha seriedade, minha paixão, é necessário possuir uma integridade intelectual levada aos limites extremos. Estar acostumado a viver no alto das montanhas – e ver tudo abaixo de si. Ter se tornado indiferente; nunca perguntar se a verdade será útil ou prejudicial... Possuir uma inclinação nascida da força para questões que ninguém possui coragem de enfrentar; ousadia para o proibido; predestinação para o labirinto. Uma experiência de sete solidões. Ouvidos novos para música nova. Olhos novos para o mais distante. Uma consciência nova para verdades que até agora permaneceram mudas. E um desejo de potência em grande estilo – acumular sua força, seu entusiasmo... Auto-reverência, amor-próprio, absoluta liberdade para consigo... (Nietzsche francano)

sábado, 10 de março de 2012

Em parte do curto espaço de tempo em que existo, procurei conhecer o segredo e a razão da existência. O segredo continuará sendo um mistério. A razão, apesar de simples, demorei para conseguir descobrir. Simplesmente não há. Existimos por acaso e para o ocaso.
As horas passam lentamente, quando estou longe, e nesse exato momento há um furação se formando para me derrubar, mais uma vez, e eu nem posso acreditar que você não estará lá, que você não me verá levantar outra vez, e depois cair novamente. Daysy

sexta-feira, 9 de março de 2012

Claro que deve haver alguma espécie de dignidade nisso tudo, a questão é onde, não nesta cidade escura, não neste planeta podre e pobre, dentro de mim? Ora não me venhas com autoconhecimentos-redentores, já sei tudo de mim, tomei mais de cinqüenta ácidos fiz seis anos de análise, já pirei de clínica, lembra? você me levava maçãs argentinas e fotonovelas italianas, Rossana Galli, Franco Andrei, Michela Roc, Sandro Moretti, eu te olhada entupida de mandrix e babava soluçando perdi minha alegria, anoiteci, roubaram minha esperança, enquanto você, solidário e positivo, apertava meu ombro com sua mão apesar de tudo viril repetindo reage, companheira, reage, a causa precisa dessa tua cabecinha privilegiada, teu potencial criativo, tua lucidez libertária, bababá bababá. As pessoas se transformavam em cadáveres decompostos à minha frente, minha pele era triste e suja, as noites não terminavam nunca, ninguém me tocava, mas eu reagi, despirei, e cadê a causa, cadê a luta,cadê o potencial criativo?
Caio

Se puder sem medo

Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pra eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pra eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pra eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranquila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava.
Oswaldo Montenegro
Eu conheço o seu coração. Seu coraçãozinho que já foi quebrado, estilhaçado em mil pedacinhos, como um copo de cristal que cai no chão. Conheço seus pensamentos, cada um que passa na sua mente, conheço os seus sonhos, conheço os seus desejos, o que você gosta e não gosta. Além de tudo isso, eu conheço a dor que você sente. Não por conhecer tudo, mas por sentir ela com você. E quando você chora, eu choro junto, quando você se tranca no quarto, eu não deixo ninguém entrar, te coloco no meu colo e deixo você chorar, até que durma. Agora você sabe por que se sente em paz quando chora? É porque eu recolho suas lágrimas, para que eu as chore no seu lugar. E quando sua dor para, é porque eu estou sofrendo por você. Eu estou quieto, e você está se remoendo de raiva de mim. Estou quieto, porque quero preparar algo maravilhoso no fim do túnel, para que você perceba, que mesmo que tenha sido escuro por todo o caminho, eu estive ali, na sua frente, retirando todas as pedras pra você, se machucando por você, sangrando no seu lugar… Você sofreu, eu sei, mas sofreu o mínimo, aquilo que eu sei que você poderia sofrer o que você não podia, eu sofri. Você está com raiva de mim. Mas eu não me importo. Porque eu te amo além de tudo. E vou continuar sofrendo por você, vou continuar chorando por você e com você de noite, de manhã, de madrugada. Vou continuar do seu lado quando você se trancar no quarto pra escutar qualquer musica no ultimo volume. Vou te amar. Mesmo que você me odeie e não me queira mais, vou continuar te querendo. Mesmo que sinta muita raiva de mim, a única coisa que eu vou fazer é te amar mais.
Caio
A dor é estranha. Um gato matando um passarinho, um acidente de carro, um incêndio... A dor chega BANG, e aí está ela, instalada em você. É real. Aos olhos dos outros, parece que você está de bobeira. Um idiota, de repente. Não há cura pra dor, a menos que você conheça alguém capaz de entender seus sentimentos e saiba como ajudar.  (Charles Bukowski)
Cada pessoa que passa na nossa vida, passa sozinha, porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada pessoa que passa pela nossa vida passa sozinha, não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso . (Charles Chaplin)
Já tenho um passado, tenho tanta história. Meu coração está ardido de meias-solas. Sei um pouco das coisas? Acho que sim... (Caio)
E ‘eu te amo’ era uma farpa, que não se podia tirar com uma pinça. (Clarice Lispector)
Às vezes sinto falta, às vezes acho um alívio estar longe . (Caio)
Eu devo reconhecer que ninguém me conhece. Não realmente. Os que mais sabem não sabem da metade. Não deixo todos os segredos escaparem de mim, não mesmo. Uma delicadeza com os outros, eu diria [...] Fernanda Young

A Viajante

Com franqueza, não me animo a dizer que você não vá.

Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos da vagabundagem, eu não direi que fique.

Em minhas andanças, eu quase nunca soube se estava fugindo de alguma coisa ou caçando outra. Você talvez esteja fugindo de si mesma, e a si mesma caçando; nesta brincadeira boba passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida — e às vezes reparamos que é ela que se vai, está sempre indo, e nós (às vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando. Assim estou eu. E não é sem melancolia que me preparo para ver você sumir na curva do rio — você que não chegou a entrar na minha vida, que não pisou na minha barranca, mas, por um instante, deu um movimento mais alegre à corrente, mais brilho às espumas e mais doçura ao murmúrio das águas. Foi um belo momento, que resultou triste, mas passou.

Apenas quero que dentro de si mesma haja, na hora de partir, uma determinação austera e suave de não esperar muito; de não pedir à viagem alegrias muito maiores que a de alguns momentos. Como este, sempre maravilhoso, em que no bojo da noite, na poltrona de um avião ou de um trem, ou no convés de um navio, a gente sente que não está deixando apenas uma cidade, mas uma parte da vida, uma pequena multidão de caras e problemas e inquietações que pareciam eternos e fatais e, de repente, somem como a nuvem que fica para trás. Esse instante de libertação é a grande recompensa do vagabundo; só mais tarde ele sente que uma pessoa é feita de muitas almas, e que várias, dele, ficaram penando na cidade abandonada. E há também instantes bons, em terra estrangeira, melhores que o das excitações e descobertas, e as súbitas visões de belezas sonhadas. São aqueles momentos mansos em que, de uma janela ou da mesa de um bar, ele vê, de repente, a cidade estranha, no palor do crepúsculo, respirar suavemente como velha amiga, e reconhece que aquele perfil de casas e chaminés já é um pouco, e docemente, coisa sua.

Mas há também, e não vale a pena esconder nem esquecer isso, aqueles momentos de solidão e de morno desespero; aquela surda saudade que não é de terra nem de gente, e é de tudo, é de um ar em que se fica mais distraído, é de um cheiro antigo de chuva na terra da infância, é de qualquer coisa esquecida e humilde - torresmo, moleque passando na bicicleta assobiando samba, goiabeira, conversa mole, peteca, qualquer bobagem. Mas então as bobagens do estrangeiro não rimam com a gente, as ruas são hostis e as casas se fecham com egoísmo, e a alegria dos outros que passam rindo e falando alto em sua língua dói no exilado como bofetadas injustas. Há o momento em que você defronta o telefone na mesa da cabeceira e não tem com quem falar, e olha a imensa lista de nomes desconhecidos com um tédio cruel.

Boa viagem, e passe bem. Minha ternura vagabunda e inútil, que se distribui por tanto lado, acompanha, pode estar certa, você.

Rubem Braga

quinta-feira, 8 de março de 2012

Desde o dia em que acreditei que tua presença, também fosse minha, tua ausência me sufoca, tenho uma faca em minha garganta. A lua dessa noite me cativava, o sol deste dia me chamava para perto de onde tu estivesses.

terça-feira, 6 de março de 2012

Não importa quantas moedas você joga na fonte, ou o número de dedos que você cruza. Se não é pra ser, não vai ser. (Caio Fernando Abreu)
É verdade que estou morrendo de medo do amor que você sente por mim. Mas não é só isso. Também ando com muito medo das pessoas todas. Eu sei disso. (Caio Fernando Abreu. Carta a Vera Antoun)

domingo, 4 de março de 2012

Ser, as vezes sangra... (Clarice Lispector)
Meu calor é frio
Minha fome é sede
Meu silêncio é grito
Desculpe não consegui ser outra pessoa.

Daysy
"O excesso. Aquilo que transborda. Tudo o que borbulha. O que vai além do limite. Todos os suspiros. O pleno gozo. O temível vacilo. Todos os gritos. A prazerosa gargalhada. A chama ardente. O frio gélido. A indiferença do querer. Sou eu sem me ser. Sou sem me sentir. Sou o avesso de tudo o que fui. Sou a própria máscara posta do lado avesso prestes a ruir." P.P.
Um instrumento afiado. Aprofundo em meus membros rasgando meu ser. Procuro vida, marcas, essência. Procuro um ultimo suspiro de clamor por auxílio. Eu me exponho em carne viva como carne exposta em açougue. Mas só as moscas mostram um interesse descontrolado por mim. Ficam ali a me posar, a me gozar, a me fertilizar. E eu continuo não sentindo nada. ( Pequena Poetiza )
Sou inquieta e áspera e desesperançada.
Embora amor dentro de mim eu tenha.
Só que não sei usar amor. Às vezes me arranha como se fossem farpas.

Clarice Lispector in “Água Viva”
Eu venho de uma longa saudade. Eu escondo de mim o meu fracasso..
Desisto. E tristemente coleciono frases de amor.
Em português é" Eu te amo".-Em francês -j'e t'aime'-
Em inglês-'I love you'.
Em italiano-'io t'amo'.Em espanhol-'yo te quiero'.
Em alemão 'Ich liebe dich' está certo?
Logo eu,a mal amada.
A grande decepcionada, a que a cada noite
experimenta a doçura da morte.

Clarice Lispector, Um sopro de vida.
Nos piores momentos lembre-se: quem é capaz de sofrer intensamente também é capaz de intensa alegria. (Clarice Lispector)
Não venha me falar de razão.
Não me cobre lógica.
Não me peça coerência.
Eu sou pura emoção.
Tenho razões e motivações próprias.
... Sou movido por paixão.
Essa é minha religião e minha ciência.
Não meça meus sentimentos.
Nem tente compará-los a nada.
Deles sei eu.
Eu e meus fantasmas.
Eu e meus medos.
Eu e minha alma…

Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia - Clarice Lispector

sexta-feira, 2 de março de 2012

"...Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios."

Manoel de Barros

quinta-feira, 1 de março de 2012

‎Os doentes terminais ficam com o punho fechado, preocupados com a próxima pontada, controlando o retorno do soluço, antecipando o lugar dos tremores. Não abrem a mão, fincam as unhas na palma, podem se machucar e rasurar as linhas do destino. Estão concentrados em seu próprio sofrimento, atentos ao som como uma noite sem estrelas. As enfermeiras criaram um truque para aliviar a dor: colocam entre os dedos dos pacientes uma luva com água morna dentro. É um faz-de-conta. É como se um familiar segurasse a mão deles naquele momento de angústia. Os doentes se tranquilizam, se acalmam, e o braço se solta para a janela...
(...) Carpinejar