terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Meu peito parece estar sufocando lentamente.
Como quem afunda num lago negro e pantanoso
Luto para respirar, mas continuo a sufocar.
Mas o que me sufoca não e água ou lodo,
Mas as palavras que não consigo dizer.
Fabricio Canalis
Logo pela manhã não vi o sol, um cinza quase negro me cobria, haviam folhas secas na varanda que foram destroçadas quando andei, um forte vento me deixou em estado de surdez e um assovio longe me convidava a guiá-lo, corri pra ver o que me esperava atrás dos pés de amora do Senhor Cazé, fui ficando com medo da intensidade de uma quase canção cantada aos lábios de alguém, posicionei minha cabeça a frente e os pés recuados e trêmulos, porém, não desisti como sempre fazia nos dias ensolarados. Começam a cair verdades do céu em diferentes formatos, depois, caíram estrelas cor de gelo, até então não entendia o que se passara ali, a cidade parecia que estava morta, nada se movia além de mim, gritei o mais alto que pude fazer para te avisar que era hora de despedir, senti algo despreender de minhas costas, como se descolassem os ossos, era uma dor insuportável. Derrepente, um clarão amarelo foi surgindo àquela paisagem triste e me senti flutuar, dando até frio na barriga continuei subindo lentamente na linha do tempo que sempre desprezava, eu era eterno aos meus hábitos. Vi retratos antigos, amigos chorando e erros omitidos, mas, o que mais me assustou, foi ver minha própria imagem lá de cima, como se fosse um espelho que não me respondia com movimentos sinceros de perdão, fui desaparecendo entre silêncio e frustração. Mandarei cartas, postais e sinais para os que amei, brotarei rosas no seu jardim querido, te molharei com chuvas de saudade, gritarei pelos trovões a minha vontade de te abraçar e te beijarei suavemente no pouso das borboletas. Continue comigo, pois, jamais te deixarei sozinho nas lembranças, segurarei firme suas mãos até o nosso reencontro nas nuvens ao norte, onde a lua permite sonhar. (Pietro Kallef)
A única coisa boa, é que uma coisa leva a outra.  Daysy
Em meio ao sofrimento surgem momentos em que as palavras fluem e tentam descrever o indescritível. No início deste post, uso o texto enviado pela Persefone em seu momento de “despedida” das coisas que lhe fizeram mal.
Hoje, agora, nesse exato instante, o único fio que me ligava a ele se rompeu. As moiras o fizeram, sorrindo e escarnecendo de minha dor.
Já estava me recuperando, todavia, receber o golpe de misericórdia ainda é doloroso. Romper-se o tendão, com cartilagens, ossos e sangue explodindo ao seu redor lhe traz uma dor sobrenatural.
Contudo, digamos que sou uma lagartixa; melhor, uma salamandra, um polvo – seria mais prudente. O membro será recuperado e poderei desfrutar novamente da minha liberdade incondicional. Não serei mais a lagartixa: serei um ser recuperado e virgem.
Quero dizer-lhe adeus. Adeus para tudo.
Fica lá, resguardado, na Terra do Nunca.
Nunca mais.

Desejo a você as coisas mais belas, mais lindas e prósperas que o mundo, que a vida, que o destino possa lhe reservar. Sério, do fundo do coração.
Estou indo, estou pegando o barco, ele urge, reclama, apita e me chama. Tenho que ir.
Suspiro fundo, tomo o último trago da cerveja quente que te lembra, retenho o ar cálido nos pulmões e o liberto, esse ar viciado que vem do meu corpo: nunca mais.
Salto de um único pulo no barco estranho, assusto um gato negro no pier, que me fixa com seus olhos amarelados como a lua, sua irmã, e olho, pela última vez, para a terra. Segurando o mastro, numa noite fria e poeirenta de um dia final de março, eu abandonei teu nome. Encho os pulmões com o ar mareando, que me faz tão bem e me acaricia a pele ressacada, e sorrio um sorriso triste para o continente translúcido. Abraço as ondas e as sereias que chamam, para um lugar que desconheço o destino.

As paredes.

Concluindo e reformulando...

Eu conto pras paredes, às coisas que não digo a mais ninguém, só elas me ouvem.
Só elas podem saber, eu só conto a elas e a mais ninguém, as paredes do meu coração sabem, para elas não posso esconder, não posso fingir, elas me suportam na minha amarga solidão, não consigo chamar você, não quero incomodar a ninguém, não tenho esse direito, mas isso não muda o fato de que eu gosto tanto, tanto de você, que chega me doer como uma dor física, e por não saber o que dizer, ou pensar que qualquer coisa que eu diga seja inútil, eu me calo. Eu não deveria dizer nada disso, mas não consigo guardar tudo pra mim. Eu posso também estar engana a respeito de tudo. Mas eu não perco a mania de enfiar a corda no meu próprio pescoço. É como se todos os dias morresse alguém. Daysy
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos. Clarice Lispector
É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado.  Caio F Abreu.

A saudade é só.

"Ela tem medo de escuro". Ele achou que tinha dito, mas a voz não saía. Era só um pensamento, um pensamento solitário. Talvez a única frase com nexo que tenha conseguido formular naquele dia. Tentou falar de novo: "ela tem medo de escuro". Talvez se gritasse, se berrasse, conseguiria. "Ela tem medo de escuro!" e, finalmente, ouviu a sua voz. Mas só um fiapo, um murmúrio, uma oração. Repetiu mais uma vez, duas, três. Talvez ainda não tivesse conseguido falar, talvez fosse ficar mudo definitivamente, porque apesar de seus avisos, de suas súplicas repetidas, eles continuaram, sem pestanejar. Trancafiaram-na lá dentro e agora ele estava ali. Impotente, covarde, um mero espectador assistindo o corpo de alguém ser sepultado. Não era nem uma cova rasa. Era só uma gaveta, uma gaveta de cimento escura e sombria, o melhor que ele pôde pagar. E se lembrou quando ela, deitada em seus braços, lhe explicou: "toda minha vertigem é fruto do meu medo do escuro, do meu medo da morte. Eu não quero morrer, não quero que ninguém que eu ame morra. É por isso que, quando choro convulsivamente em seu colo, pedindo, implorando para que eu não morra, como se você fosse o próprio deus, é porque naquele instante eu realmente acredito que você é ele. Um deus bondoso, que me protege, me guia e a quem eu amo acima de todas as coisas." E ele, que nunca foi deus, nem se aproximou disso, não conseguiu salvá-la. E talvez só a amasse realmente agora, depois de morta.

***
Ele me falou sobre o gosto amargo na boca durante a cremação. Eu me lembrei imediatamente do cheiro meio acre, meio doce das flores, que começou durante o velório e me acompanhou até o enterro. Eu nunca esqueci o cheiro. Ele nunca esqueceu o gosto. Nós não estávamos chorando pela mesma pessoa. Alguns meses separavam o adeus, o funeral e todos os outros ritos que acompanham essas ocasiões. Comecei a pensar que, talvez, nossos sentidos fiquem mais apurados nessas horas. E que, talvez, os sentidos fiquem mais apurados porque todo o resto está adormecido, entorpecido, não sei definir bem. Sei que dói. Que dói demais. E que jamais conseguirei me acostumar com a morte.

O meu problema, meu bem, é a saudade. Eu sei que já estamos cansados de falar de saudade; mas é isso. Não há nada mais para explicar. Eu sinto saudade. E às vezes eu acho que sou só isso. Que toda aquela confusão de sentimentos já acabou; que tudo ficou frio, limpo, resumido a uma coisa só: saudade. Eu sinto saudades de tudo, sinto saudades de qualquer coisa, sinto saudades do que não vivi. Me disseram que isso é um lugar-comum, mas é a verdade. E eu continuo me perguntando: como é que alguém pode viver sentindo saudades daquilo que não viveu? Eu não tenho uma resposta. Eu gostaria de ter, gostaria muito de ter, mas não tenho. Só sei que isso é possível porque eu estou aqui. Ou pelo menos acredito que estou. Saudade é algo tão pequeno, tão mesquinho; deve ser por isso o eco em meu pensamento, o eco tão comum de lugares vazios, o eco tão comum na solidão. A saudade é só.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

‎... Jamais tomará um trem, se puder voar. Jamais ficará calada, se puder falar. Jamais irá embora, quando puder ajudar. E jamais andará, quando puder correr.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Espero que as coisas mudem, menos o essencial. 
Eu espero que quando você fechar os olhos não seja para sempre.
Você não pode ligar os pontos olhando para o futuro, você só pode ligá-los, olhando para o passado. Então você tem que confiar que os pontos vão, de alguma maneira, se ligar no futuro. Você tem que confiar em alguma coisa, seu Deus, destino, vida, karma, qualquer coisa. Porque acreditar que os pontos vão se ligar em algum momento, vai te dar confiança para seguir seu coração, mesmo que te leve para um caminho diferente do previsto. E isso fará toda a diferença.
Steve Jobs.
‎"O que amamos nos destrói sempre." (Crônicas de Gelo e Fogo: Guerra dos Tronos)
“Porque a coisas e a pessoas que fazem parte da minha vida vão aos poucos entrando em mim, depois de algum tempo já não sei dizer o que é meu e o que é delas. Mesmo assim, bem no fundo, há coisas que são só minhas. E embora me assustem às vezes, é delas que mais gosto. Como essa vontade de acabar com tudo, que me dá de vez em quando.”
CFA
Você vai me abandonar e eu nada posso fazer para impedir. Você é meu único laço, cordão umbilical, ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora. Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue para manter-se viva. Você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu possa beber. Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto.
Caio Fernando Abreu
"O teu sangue frio não consegue ficar febril; corre-te nas veias água gelada, mas nas minhas está o sangue a ferver, e ver tanta frieza à minha frente deixa-me desvairada". (O Morro dos Ventos Uivantes)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A felicidade como a morte
É como um concurso milionário da Tv
Existe um globo infinito
Com bilhões de bolinhas girando em algum lugar
Dá pra entender?
A cada instante uma deusa retira um número
Que pode ser o meu
Por isso nada de pudores
Dá pra entender?
Ou você explora o próximo
Ou o próximo é você
Esta é a única e verdadeira moral no mundo horrível
Dá pra entender?
Passei na cidade
Girando em algum lugar.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Estou cansado da Terra. Dessas pessoas. Cansado de me envolver na complicação de suas vidas. Eles afirmam lutar para construir um paraíso. Mas o paraíso deles é povoado por horrores.
Talvez o mundo não tenha sido criado. Talvez nada seja criado. Um relógio sem um relojoeiro. É tarde demais, sempre foi e sempre será, tarde demais.
Doctor Manhattan
Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava.
De olhos abertos, lhe direi:
- Amigo, eu me desesperava.
Sei que, assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
Mas ando mesmo descontente.
Desesperadamente eu grito em português:

- Tenho vinte e cinco anos de sonho e
De sangue e de América do Sul.
Por força deste destino,
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues.
Sei, que assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
E eu quero é que esse canto torto,
Feito faca, corte a carne de vocês.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Água parada

Não sou daqueles riachos
Seguros, rasos, calmos
Minhas águas são claras
Porém
Agitadas, rápidas, ágeis
Corro rumo ao oceano
Com fúria, com pressa
Caudalosa, sou larga
Transparente, sou profunda
Água fresca que renova
Acorda!
Nunca me imaginaria água parada.

http://pensamentoacidental.blogspot.com por Bia Quadros

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Todo o fantasma, toda a criatura de arte, para existir, deve ter o seu drama, ou seja, um drama do qual seja personagem e pelo qual é personagem. O drama é a razão de ser do personagem; é a sua função vital: necessária para a sua existência.
Nossos pensamentos não estacionam, nossos desejos variam, o certo e o  errado flertam um com o outro, não há permanência, tudo é provisório...
Durante o percurso da vida, tudo é movimento, surpresa e sorte.

Martha Medeiros

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O MENTIROSO

Eu queria dizer a verdade. Eu amo a verdade, mas ela não gosta de mim. Eis a verdadeira verdade, a verdade não gosta de mim. Logo que a digo, ela muda de figura e volta-se contra mim. Fico com a cara de mentiroso e todos me olham de esguelha. E no entanto, sou simples e detesto mentiras. Juro.

A mentira atrai encrencas incríveis, a gente mete os pés pelas mãos, tropeça, cai, e todo mundo caçoa de nós.

Se me perguntam algo, quero responder a verdade. A verdade me corrói. Mas aí, não sei o que se passa. Assalta-me uma angústia, um receio, um medo de ser ridículo e minto. Minto. Pronto. Tarde demais para voltar atrás.

E uma vez o pé na mentira, é deixar passar o resto. E não é cômodo, juro-lhes.

É tão difícil dizer a verdade. É luxo de preguiçosos. A gente tem certeza de não se enganar depois, e de não ter aborrecimentos mais tarde. Os aborrecimentos vêm logo no mesmo instante, e depois tudo se arranja. Enquanto que eu !... o diabo entra na dança.

A mentira não é um declive íngreme. São montanhas russas que nos arrebatam, cortando-nos o ar, detendo-nos o coração, apertando a garganta. Se amo, digo que não amo. Se não amo, digo que amo. Adivinhe o que acontece, é de enlouquecer os miolos! E não adianta parar-me diante do espelho e repetir-me: você não mentirá mais. Minto. Minto. Minto. Minto nas pequenas coisas e nas grandes também!

E se alguma vez me acontece dizer a verdade, por acaso... por surpresa... ela se retorce, se encarquilha, se encolhe, faz careta... e transforma-se em mentira! Os menores detalhes se combinam contra mim, provando que menti.

E... não é que seja covarde... em casa acho sempre o que devia responder e imagino as melhores saídas. Apenas na hora, fico paralisado e em silêncio. Chamam-me de mentiroso e engulo. Poderia responder: estão mentindo! Mas não acho forças para isso. Deixo-me insultar, rebentando de raiva. E é essa raiva acumulada em mim, que me dá ódio. Não sou mau. Sou até bom. Mas basta que me tratem de mentiroso para sufocar de ódio, eles têm razão. Sei que têm razão e mereço os insultos. Mas e daí?Não queria mentir e não posso suportar que não compreendam que minto à minha revelia, impulsionado pelo diabo.

Oh!... Vou mudar. Já mudei. Não mentirei mais. Hei de achar um jeito para deixar de mentir, para deixar de viver na tremenda desordem da mentira. Dir-se-ia um quarto desarrumado, arame farpado à noite corredores e corredores de sonho. Tenho que me curar. Hei de sair disso! De resto, dou-lhes uma prova. Aqui em público, acuso-me de meus crimes e exibo meu vício. E não vão pensar que gosto de exibir meu vício e minha fraqueza seja o cúmulo do vício. Não, não. Tenho vergonha! Detesto minhas mentiras e irei até os confins do mundo para não ser obrigado a fazer minha confissão.

E os senhores, dizem a verdade? ... os senhores devem mentir! Todos devem mentir sem parar, e gostar de mentir e achar que não mentem. Devem todos mentir a si.

Jean Cocteau

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Assim, como se já não suportasse mais sua ausência, agora queria sua presença.
Daysy