sábado, 7 de abril de 2012

A coisa.

Preso nessa coisa.
E não há como fugir da coisa.
Você dorme.
Você acorda.
Com a coisa.


E não há como se livrar.
Ninguém se livra.
Há alguns que nasceram sem.
Os sortudos.


Mas você.
Você ah.


Você nasceu com a coisa.
E irá levantar, se pentear,
Trabalhar, beber
E lavar suas roupas de baixo com a coisa.


Irá entrar no carro.
Encerrar relacionamentos.
Brigar, falar, emudecer.
Com o pneu do carro furado em uma estrada deserta.
Sozinho. Com a coisa.


Sentar em cadeiras frias de restaurantes frios
Comendo comidas frias e você
Engole a coisa.


Você volta pra casa,
Entra no quarto
E ouve
Reclamações por alguma louça não lavada
Ou por alguma poeira no chão.


Sai.
Senta na calçada
Acendi um cigarro. E traga
A coisa.


Você vomita e olha
O espelho.


A coisa
Ti
Torna
Gélido.


Você não dorme direito.
Não come direito.
Não escreve direito.


Você não faz porra nenhuma direito.


É normal.


Dói.


E você terá que suportar.
Porque você é o fodão.
Carregar o próprio
Cadáver todos dias, ciente disso.
Tem que ser.


Você tem papel. Você tem caneta.
Então você fode a coisa toda.
Com estilo. Ou não.
Francyne R.Nunes

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