terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Em meio ao sofrimento surgem momentos em que as palavras fluem e tentam descrever o indescritível. No início deste post, uso o texto enviado pela Persefone em seu momento de “despedida” das coisas que lhe fizeram mal.
Hoje, agora, nesse exato instante, o único fio que me ligava a ele se rompeu. As moiras o fizeram, sorrindo e escarnecendo de minha dor.
Já estava me recuperando, todavia, receber o golpe de misericórdia ainda é doloroso. Romper-se o tendão, com cartilagens, ossos e sangue explodindo ao seu redor lhe traz uma dor sobrenatural.
Contudo, digamos que sou uma lagartixa; melhor, uma salamandra, um polvo – seria mais prudente. O membro será recuperado e poderei desfrutar novamente da minha liberdade incondicional. Não serei mais a lagartixa: serei um ser recuperado e virgem.
Quero dizer-lhe adeus. Adeus para tudo.
Fica lá, resguardado, na Terra do Nunca.
Nunca mais.

Desejo a você as coisas mais belas, mais lindas e prósperas que o mundo, que a vida, que o destino possa lhe reservar. Sério, do fundo do coração.
Estou indo, estou pegando o barco, ele urge, reclama, apita e me chama. Tenho que ir.
Suspiro fundo, tomo o último trago da cerveja quente que te lembra, retenho o ar cálido nos pulmões e o liberto, esse ar viciado que vem do meu corpo: nunca mais.
Salto de um único pulo no barco estranho, assusto um gato negro no pier, que me fixa com seus olhos amarelados como a lua, sua irmã, e olho, pela última vez, para a terra. Segurando o mastro, numa noite fria e poeirenta de um dia final de março, eu abandonei teu nome. Encho os pulmões com o ar mareando, que me faz tão bem e me acaricia a pele ressacada, e sorrio um sorriso triste para o continente translúcido. Abraço as ondas e as sereias que chamam, para um lugar que desconheço o destino.

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